domingo, 8 de junho de 2014

Vai aos céus Marinho Chagas - a estrela não é mais solitária

  Passa o tempo, a vida anda. Ao ritmo dos vagarosos ponteiros do relógio, convenço-me de que o Botafogo não é, há tempos, o clube da estrela solitária. Há atualmente uma constelação. Enorme, branda, luminosa, brilhante. Maior que o Cruzeiro do Sul, mais reluzente que a Lua. Diferente das Três Marias. Afinal, quando apontadas, não transmitem ruindade, mas sim, energias positivas, vindas de muito longe.

 A medida que a vida passa, o Botafogo torna-se um clube repleto de estrelas, brilhando eternamente na imensidão do universo. Agora, Vênus, a estrela Dalva, a famosa "estrela solitária", já não está tão a sós assim. Pelo menos não quando se trata do preto e branco.

 Lá no alto, nosso time torna-se cada vez mais imbatível. O temperamental Heleno de Freitas, o ser não identificado Garrincha, o folha seca Didi, o sério Quarentinha, o aguerrido João Saldanha, recentemente, a enciclopédia maior Nilton Santos e agora, Marinho Chagas. Nosso lateral esquerdo. O maior da era pós-Nilton. O canhão de General Severiano. Do Botafogo ou do Brasil. Do mundo.

 Foram inúmeras as vezes em que Chagas não só estufou, como quase perfurou, rasgou e fez chorar as redes do Maracanã. Principalmente clássicos. Essencialmente, as redes rubro-negras. Seu chute e sua precisão eram algo de estremecer um Maracanã completamente sólido.

 Não havia algo que parasse a trajetória impecável da pelota. Em poucos milésimos de segundos, era impossível não notar inúmeros detalhes, que aparentavam simplesmente uma paralisação nos ponteiros.

 Ao chutar, seus músculos da perna só faltavam pular para fora e criar vida. Seus longos cabelos claros tremulavam sobre sua cabeça acima da coluna, sempre curvada para baixo, como um corcunda, dando não só maior potência na patada fatal, mas também, um estilo monstruoso e amedrontador, para todos os presentes naquele momento.

Não havia zagueiro, goleiro, rede, massagista, muro de concreto que impedisse que as narrações berrassem pelas cabines: "O endereço é certo." Não havia quem ousasse se meter entre o entregador e o destinatário. Afinal, a mensagem era forte, direta e precisa.

 Agora, garanto que o céu está protegido por um canhão. Minha certeza de que o céu está cada vez mais iluminado, se concretiza cada vez mais. Mais um faz festa lá em cima, e deixa saudades aqui embaixo. E se hoje, de alguma forma, algo cair do céu e atingir o planeta com toda a sua força, pode acreditar que foi Marinho Chagas.



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