sábado, 16 de maio de 2015

O Nilton do impossível - colorindo o preto e branco. Noventa anos de enciclopédia.

 O planeta em que vivemos é estonteante. Histórico, turbulento, intenso. Repleto de acontecimentos históricos e inúmeros detalhes efêmeros a cada dia, desde seu primeiro dia, mesmo nem se fazendo ideia de quando essa saga iniciou-se.

 Culturas diversas e contos controversos, repleto de diferentes versões, em meio a tantas dúvidas, há de se ter uma certeza. Guiado és o caminho percorrido por nós. Encaixes perfeitos e detalhados como os de um quebra-cabeça chinês. Costuras na medida exata, como as daquela velha senhorinha fazendo agasalhos com as mais apuradas habilidades com as mãos. O destino não deixa falhas, apenas exemplos. Com finais felizes ou não, possuem sempre um porquê. O destino nunca falas em vão.

 Há de se crer, aos que possuem a mente aberta, de quando se fala em predestinação, o Botafogo és cúmulo. Ai final do século XIX, remadores fundaram o clube, inspirando seu símbolo naquela que mais brilhava nas madrugadas rotineiras na lagoa Rodrigo de Freitas, antes de seus treinamentos: Estrela solitária. Conduzida pelo destino, traçada a conduzir-nos. 

 Assim como sua história, o Botafogo é puro. Nasceste do que parecias uma brincadeira, para tornar-se algo sério. Se no começo abstrato, ao longo tornava-se concreto, Gigante, esplendoroso, cada vez mais rico de histórias. E como todo gigante de fato, necessitava de uma base. Ou seja, seus protagonistas.  É nesse momento que Deus se enquadra no glorioso e lendário caminho preto e branco. Daqueles bem descoloridos, como os filmes e fotografias antigas: HISTÓRICO.

 16 de maio de 1925. Nascias Nilton dos Santos. Não apenas um protagonista, mas sim o personagem principal da história do Botafogo. Da infância difícil na Ilha do Governador à glória, em ser o condutor de um gigante, já dito como um dos maiores times da história do futebol. Talvez, o maior de todos.

 Começara fazendo história logo de cara, em 1948, quebrando o primeiro jejum de glórias alvinegro. Batendo o Vasco da Gama na decisão, o Botafogo conquistava o título estadual ausente há mais de doze anos. Nilton já iniciara provando suas ambições.

 De personalidade forte, audacioso e líder por si só, Nilton atraía todos os acontecimentos a seu favor. Nilton fazia o bom permanecer bom, e o ruim, tornar-se maravilhoso. Em 1953, um pobre rapaz de pernas tortas chegara a General Severiano para fazer um teste no clube. Em questão de segundos em campo, pôs a bola por baixo das pernas de Nilton Santos por duas vezes e fez o treinamento ficar sem graça. Nilton então, soube ser decisivo, até no pior momento: "tragam esse rapaz agora. Não me façam enfrentá-lo de novo. O ponham no time o mais rápido possível."

 Há quem diga que com o passar dos anos após este dia mágico, Manoel dos Santos Garrincha tornara-se o maior jogador da história do Botafogo. Mas poucos sabem que sem Nilton, essa genialidade real seria apenas ilusória. Talvez a história do Botafogo não fosse tão rica. Com certeza o futebol não seria tão amado. Se houve um "anjo das pernas tortas", foi graças a um saudoso "Deus de bigodes." Não só companheiro, como com o passar do tempo, acabou-se por torna-se um verdadeiro pai que Mané nunca tivera a oportunidade de ter e espelhar-se. 

 Se o simples Manoel tornara-se Garrincha e o Botafogo o temido clube que estampava as capas dos jornais de todo domingo como "Quem será a próxima vítima do alvinegro", tiveram como base, um ser. Duas palavras. Uma lenda. O maior lateral esquerdo de todos os tempos.

 Não só habilidoso e esplendoroso, como também revolucionário. Assim chegam, agem e se vão os protagonistas enviados por Deus. Se em 1950 fora barrado do time por não usar chuteiras de bico grosso como as de um defensor padrão, havia um motivo. Pela primeira vez um lateral possuía liberdade. Se antes os gritos de "Volta, Nilton!" ecoavam na beira dos gramados em partidas de Brasil e Botafogo, hoje tornam-se apenas berros irônicos, que enfatizam registros metafóricos a respeito de Nilton. Se na França há dois séculos anunciava os princípios de liberdade, no campo o iluminista eras um só: A enciclopédia.

 De cada ato, uma história. Da comida roubada dos restaurantes na copa de 54 ao passo à frente que enganara a arbitragem em 58. Esplendoroso, genial, macaco velho desde cedo. Malandro quando convinha, sábio quase sempre. Fez o Botafogo tornar-se maior do que já eras. De gigante, ganhara também um novo adjetivo: apaixonante. Não há como não amar o futebol e desconsiderar o alvinegro carioca. Graças a Nilton, o Botafogo tornara-se preto no branco. Que em breve, o azul do engenhão dê lugar ao "colorido" alvinegro pintado por Nilton Santos. Noventa anos santos, histórias rudemente escritas, impossíveis de serem apagadas. Deus traçara o destino.

 Já dizias Armando Nogueira, nas mais belas crônicas que um gênio literário dedicara à uma lenda.

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"Tu em campo, parecia tantos
No entanto, que encanto!
Eras um só: Nilton Santos."


Mas o próprio Armando sabias que verso algum chegaria aos pés de uma enciclopédia.


Daniel Braune

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