quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Não existe último capítulo para a Enciclopédia.

 Desde ontem, vemos um clube muito menos na Terra e muito mais Estrela Solitária nos céus. A ficha ainda não caiu, parece impossível crer o que aconteceu. Fomos pegos de surpresa. Banhados por um balde de água congelante, ou talvez atingidos por uma facada pelas costas. E pelo rosto dos botafoguenses, escorrem as lágrimas intermináveis da perda de um verdadeiro imortal em nossos corações.

 Chega ao fim o ciclo de Nilton Santos no planeta. Mas por tudo o que fez este gênio, sua alma está consagrada. Afinal, não é a toa que é conhecido como a Enciclopédia do futebol. Nilton foi sem sombra de dúvidas o melhor lateral já visto no mundo do futebol.

 O primeiro defensor a ousar penetrar pelo ataque. Ignorando os gritos incansáveis dos treinadores de "VOLTA, NILTON!", o craque revolucionou o futebol. Com ele, não tinha bico, faltas, muito menos "jogo duro". Ao contrário da maioria dos zagueiros da época, Nilton tinha a classe e a categoria de um meio-campista. Quando a bola parava aos seus pés na risca da área, em cima da linha da baliza, entre dois atacantes, não havia desespero para ele. Dominava, erguia a cabeça, driblava, lançava e deixava a todos de boca aberta. Com a pelota aos seus pés, o jogo parava, pois até a bola tinha respeito por aquele gênio.

 Do início ao fim, sua carreira foi de sucessos e lindas e emocionantes histórias. Iniciou em 48, contra o América Mineiro e no mesmo ano foi campeão carioca vencendo o Vasco em General Severiano, para desde já tornar-se uma lenda. Na Copa de 1950, Nilton já era de fato o melhor da lateral no país. Mas Flávio Costa, o "durão" treinador do escrete, o mesmo que teimou em não convocar Heleno de Freitas para o mundial, implicou com a chuteira do lateral. O técnico do Brasil afirmou que o calçado era muito fino para um defensor, que tinha que "jogar pesado". Mas Nilton não era um defensor qualquer... era simplesmente Nilton Santos. Tratava a bola com carinho, respeito, sem a crueldade de um chutão. Por isso, escolheu continuar treinando com suas chuteiras finas e revoltando o treinador, do que entrar em campo e fazer feio, mostrando que nada desacatava a sua personalidade forte.

 Com o decorrer da carreira, o jogador evoluía cada vez mais. Não apenas dentro dos gramados, mas também fora deles. Em 1954, o craque Didi, seu companheiro de Botafogo e seleção brasileira, entrara em greve de fome por receber a notícia de que sua esposa, Guiomar, fora barrada da concentração brasileira e impedida de encontrar seu marido. Irritado, o meia resolveu fazer uma greve de fome em plena Copa do Mundo. Nilton Santos, com o seu imenso coração de ouro e preocupado com a saúde de Didi, arriscou sua integridade física e moral roubando comida dos restaurantes suíços da época para alimentar o amigo.

 Em 58, sagrou-se campeão mundial pela primeira vez com a seleção brasileira, sendo um dos principais responsáveis pelo incentivo, apoio e ajuda aos dois maiores craques da história do futebol, Pelé e Garrincha, que acabaram com o mundial daquele ano. Em 62, já com 37 anos de idade, a imprensa e a torcida condenaram o craque, afirmando que ele estaria "velho demais" para jogar um mundial. Com a bola nos pés, Nilton deu sua resposta. Numa partida contra o Paraguai num Maracanã para mais de 200 mil pessoas, o "velho" marcou como um leão, correu como um menino e jogou como Nilton Santos... digo, como gênio. Além disso, marcou o quarto gol do Brasil, numa arrancada sensacional desde o meio de campo, calando todo o Maracanã e arrancando aplausos mais que merecidos do público carioca. Foi à Copa, sagrou-se um dos melhores do torneio e levou o Brasil ao bicampeonato, além de protagonizar uma das maiores cenas da história do futebol quando após cometer um pênalti, deu dois passos para frente para sair da área e dar a entender de que o ocorrido tivesse sido fora da área.

 Nilton Santos faleceu, mas sua alma está eternizada na glorioso e mística camisa 6 do Botafogo. Sua história não tem fim, pois quem faz história não a termina, apenas "faz história". Nilton Santos foi, é e PARA SEMPRE será o maior lateral, um dos maiores jogadores da história e simplesmente um dos maiores seres humanos que por aqui passaram. É sim de fato O MAIOR ÍDOLO DA HISTÓRIA DO BOTAFOGO. Nunca perdeu uma final pelo alvinegro, trouxe ninguém mais ninguém menos que Garrincha ao Glorioso, conquistou quase tudo que poderia ter conquistado na época. Se estiver lendo minhas palavras daí de cima, pode ter certeza que foram de coração. Afinal, nenhuma palavra, verso e nem milhões de textos vão poder descrever rodas as suas glórias, histórias e, principalmente, a sua grande alma.

 Se a partir de hoje a Estrela Solitária brilhar mais, já saberemos o porquê. Que o Botafogo eternize a lendária camisa meia dúzia, pois podemos ter certeza de que hoje, o céu está em festa. Nesse exato momento, Garrincha e Nilton devem estar matando a saudade de trinta anos.

 Obrigado, Nilton Santos. Obrigado por ser o maior ídolo da história do meu clube e por fazer com que eu me sinta na OBRIGAÇÃO de lhe escrever essas míseras palavras. Descanse em paz, e nos abençoe junto aos outros craques daí de cima. Seu ciclo na Terra pode ter terminado, mas a Enciclopédia nunca terá um último capítulo.

"Tu, em campo,
parecia tantos,
e, no entanto,
que encanto!
Eras um só...
Nilton Santos." - Armando Nogueira


1925 - 2013
"Hoje a estrela brilha mais."