quarta-feira, 9 de julho de 2014

Brasil 1x7 Alemanha - LUTO

 Chorando, registro aqui neste melancólico momento da minha vida, a minha indignação. Afinal, de nada adiantou esperar sessenta e quatro anos. Se antes agradecia por não ter presenciado o pavoroso Maracanazo, hoje belisco-me, de minuto em minuto, para saber se o que vivo hoje, é realmente verdadeiro. Desolado, tento relaxar minha alma, carregada de tristeza e ódio.

 Aguardado mais de meio século, a catástrofe foi ainda maior. Não perdemos ou fomos derrotados, antes fosse apenas isso. Fomos agredidos, escorraçados, pisados, chutados, mortos e enterrados dentro de nossa própria casa. Uma derrota tão igual quanto a um lutador que não nocauteia seu adversário de vez, mas aproveita para humilhá-lo diante do público. Destroçou-se fibra por fibra os corações brasileiros, sem dó, resultando num sofrimento lento e desesperador.

 Vivo, ao vivo, à cores e saudável, infelizmente tive de presenciar este momento que me envergonhará até o resto da vida. É tanta indignação, que gastei mais de dois parágrafos apenas lamentando o leite derramado. É tanto erro, que mal sei por onde começar.

 Volto ao Maracanazo. O maior vexame da história do futebol brasileiro até ontem. Diante de 200 mil torcedores, a primeira Copa do Mundo escapava. Desde então, anos se passavam, Pelé, Garrincha e outros craques surgiam, nosso futebol se sobrepunha sobre o mundo inteiro, com títulos, histórias e genialidade. Tendo feito tudo e mais um pouco, mesmo assim, o Brasil nunca conseguiu apagar a agonia do fantasma de 1950. Cabia a estes homens, de 2014, que entraram ontem em campo, subir mais um degrau que nos levaria ao apogeu. E reza a lenda, de que neste lugar haveria uma borracha, capaz de apagar dez assustadoras letras: M A R A C A N A Z O.

 Pois bem, não apagamos, mas sim, pagamos. Pagamos pelo nosso passado. Pela corrupção e desinteresse que é esparramado pela Confederação Brasileira de Desportos e Futebol. Pelas lambanças desde a década de 70. É principalmente a partir deste tempo, que os condutores do futebol brasileiro simplesmente deixam de lado a evolução do futebol e começam a voltar-se apenas para o lado econômico da instituição. Amistosos contra Gabão e Kwait, jogos multimilionários em Londres e Dubai, hotéis cinco estrelas recebendo o escreve brasileiro, são apenas alguns dos inúmeros fatores que fazem o bolso de homens como Ricardo e Marins engordarem, e o futebol brasileiro passar tanta fome quanto um país subsaariano.

 Pagamos por todos os erros inaceitáveis que comprovam porque o Brasil não consegue manter-se seguro no topo. A demissão de João Saldanha em 69, a teimosia de Lazaroni em 78, o estrelismo em 82, o episódio Ronaldo em 98, a seleção obesa de 2006, a incapacidade de Dunga em 2010. A falta de profissionalismo e seriedade de uma seleção que tinha em suas mãos a maior missão da história de nosso futebol neste ano.

 Esperado tanto tempo para que a humilhação fosse aniquilada, apenas construiu-se uma ainda maior. Não foram míseros gols. Não foi disputado, não foi difícil. Foi ridículo. Vergonhoso. Foram manchadas de sujeira e imundice as nossas cinco estrelas, conquistadas com tanto suor e história. Foram SETE gols. Sofridos em casa, no nosso território, de maneira ridícula. com alguns dos melhores jogadores do mundo a nosso favor. Com esperanças antes do jogo, deparei-me com o passar do tempo com um verdadeiro time amador confrontando uma equipe profissional em um jogo treino. Lembrei-me do Taiti na Copa das Confederações. Acontece, é que o Taiti nunca disputou sequer uma Copa do Mundo. Muito menos possui cinco estrelas no peito. Podem até surgir mais dez, vinte, trinta estrelas. Este dia, jamais se apagará.

 A inaceitável disposição emocional, técnica, tática e física, comprometeram uma seleção meramente DESPREPARADA para disputar uma competição como a Copa do Mundo. Todos os problemas carregados do nosso negativo passado, comprometeram para erros ridículos. Amadorismo definiu e para sempre definirá a histórica humilhação de ontem.

 Que aprendamos que futebol é coisa séria. Não basta talento, se não há aplicação. Não basta técnica se não temos tática. Não existe HEXA sem disciplina, organização e planejamento. Que o nosso passado, pronto para ser apagado, seja visto com melhores olhos. Afinal, hoje, não é mais o pior de nossa história.

 E ao falar em passado, que os jogadores saibam que envergonharam Deuses como Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Zagallo, Amarildo, Gérson, Rivelino, Tostão, Heleno de Freitas, Zizinho, Ademir da Guia, Jairzinho, Gilmar, Djalma Santos, Bellini, e muito mais. Que Felipão aprenda que, na medida em que passa o tempo, o futebol evolui em todos os aspectos. Que os cartolas simplesmente morram queimados, todos eles, sem exceção. São eles os principais responsáveis por esta catástrofe. Que lembrem-se, até o último minuto de suas vidas, que quando responsáveis por nos concretizar como Reis do futebol, nos humilharam ainda mais, acabando com todo o respeito que antes tínhamos. NINGUÉM merece parabéns após ser humilhado. Vocês não merecem o mínimo consolo vindo de nós torcedores.

 O choro que hoje derramo, não é o meu choro. É o choro de Garrincha, Heleno de Freitas, Didi, Nilton Santos. Sinto todos eles agora, aqui, ao meu lado, jorrando lágrimas assim como eu. As mesmas lágrimas derramadas em 1950. E hoje, a mesma manchete usada na época, pode ser repetida. LUTO.

                  

As oitavas e quartas - Só espetáculo

 Atraente, fixante, tentadora e sedutora, tal como uma bela mulher. Seja necessário, trabalhar, estudar, treinar, durante um mês e um dia, o principal foco sempre será verde, com detalhes brancos e uma pequena circunferência, correndo livre ao redor de vinte e dois guerreiros. Seja qual for a necessidade, o objetivo ou os afazeres, o foco será, para muitos, a Copa do Mundo.

 Nunca se viu um mundial tão belo, com tantos jogaços. Tantos ? Que nada. APENAS jogaços. Espetáculos, de deixar qualquer amante futebolístico no planeta boquiaberto e estarrecido. Gigantes do futebol, carregando em suas pesadas camisas a tradição, o futebol potente e a responsabilidade de se manter no topo. Surpresas, jogando como gente grande, ameaçando e amedrontando as pesadas camisas do outro lado do campo. O sufoco suíço para cima da Argentina, a pressão chilena contra o Brasil, os ataques poderosos de Argélia e Nigéria contra franceses e alemães. Só jogaços, decididos no suor, no final, mesmo que sejam tão desiguais os pesos das camisas em conflitos.

 Nas quartas, jogos mais truncados, aguerridos, de cautela. O peso das camisas prevaleceu sobre a perseverança dos pequenos. O Brasil, no suor e no tamanho, derrubou a forte e ágil Colômbia. A Argentina, na sorte, sorte de gigante, desestabilizou com um gol a Bélgica. A Costa Rica bem que tentou, até empatou, mas na disputa de pênaltis, se apequenou não só diante da Laranja Mecânica, mas também do enorme goleiro Krul.  No único encontro de gigantes, presenciado por mim no maior templo do futebol mundial, a tática Alemã prevaleceu sobre o confuso, embora bonito, desentrosado futebol francês.

 Mortas mais doze, sobram quatro. Quatro gigantes, nove títulos mundiais entre três campeãs mundiais e uma revolucionária da década de 80. Tamanho é o que não falta nessas semifinais da Copa do Mundo no Brasil.

 E se tivermos sorte, no dia treze de julho, passando os dois sulamericanos, teremos a maior final da história de todo o futebol. Não há necessidade nem de dizer qual é.