terça-feira, 15 de julho de 2014

Tanto na trave bateu, que uma hora entrou. É tetra, Alemanha!

 Injusto seria analisar essa conquista nesse curto período de um mês. Avaliar a performance alemã neste mundial em apenas sete joguinhos. Se vimos Philipp Lahm levantar o tão sonhado tetracampeonato germânico, o primeiro com o país unificado, sem a divisa do muro de Berlim, devemos entender que a história por trás desse gesto é muito maior que qualquer mundial.

 Conquistado o tri em 90, a Alemanha foi direto em queda livre a um abismo profundo. Na copa seguinte, após uma apática primeira fase, acabou por ser eliminada nas quartas pela modesta Bulgária. Em 98, novamente nas quartas, deu adeus sendo atropelada pelos croatas. Dois anos depois, uma vergonhosa e irreconhecível campanha na Eurocopa que terminou na primeira fase, espantando a todos que têm noção do quão enorme é o futebol alemão.

 Porém, todo e qualquer tipo de susto e problema, tem lá seu lado positivo. Assustadas e temendo um decréscimo ainda maior, as autoridades e grandes craques, como Franz Beckembauer e Müller, decidiram arrumar a casa. Fortaleceram as categorias de base, investiram em inovações, fortificaram a liga do futebol local e também os clubes que nela jogam. Mudaram tudo, decidindo aprender com os problemas que já se expandiam há dez anos.

 Formando jogadores, investindo na modernidade e retomando o ofensivo, veloz e belíssimo estilo de jogo alemão, fez-se jus ao tamanho e à grandeza daquele país, quanto à sua história no futebol, tendo logo em 2002, o primeiro resultado dessa evolução. Às pressas, Sob o comando de Rudi Völler, conseguiram chegar à final da Copa no Japão, parados apenas pela genialidade de Ronaldo e Rivaldo. Derrotados ? Jamais. Alemães tiram proveito dos fracassos, e modificam o tom da palavra. O que significa fracasso e falha para nós, para eles gera aprendizado e confiança.

 Na mesma dinâmica, seguia o planejamento. Em 2006, com Jürgen Klinsmann, no projeto da Copa do Mundo na Alemanha, o objetivo principal não era vencer a Copa do Mundo, mas sim, fazer sua população voltar a respirar o futebol como antes. Deu certo. Fracasso na derrota para a Itália nas semi-finais ? De forma alguma. Sucesso, ao unir novamente o futebol e seu povo, com disciplina tática e um futebol vistoso.

 Klismann deixava o cargo de treinador para assumir outro projeto nos Estados Unidos, mas deixava ali um legado de continuidade. Ao invés de renovar tudo e iniciar tudo do zero, assumia a seleção o auxiliar técnico da última Copa, Joachim Löw, mantendo os padrões e ideologias de seu companheiro. Manteve a base de 06, mas mesclando a nova e a velha geração. Formou um escrete de futebol ainda mais vistoso e veloz, encantando qualquer olhar futebolístico. Perdeu a final da Euro 2008 e o mundial na África nas semifinais, duas vezes para a Espanha, erros bobos de sua parte, alterações mal feitas no final das duas competições, por falta de experiência. Derrotado ? Não. Aprendeu, estudou, seguiu em frente.

 Em 2012, outro fracasso de Löw, por tentar igualar seu padrão de jogo ao dos espanhóis, com posse de bola e lentidão. Perdeu para a renovada e ofensiva Itália de Prandelli. Mais uma vez, aprendeu com os próprios erros, os problemas de mudar em cima da hora.

 Finalmente, 2014. Escrete pronto para a batalha, que durava vinte e quatro anos. Reus se machucou, deu lugar a Götze no time titular. Quatro zagueiros fixos, Lahm de volante, meio de campo em rodízio, falso 9. Deu certo contra Portugal. Contra Ghana, nem tanto. Contra os EUA, menos ainda. Colocou Klose como centroavante na segunda etapa, arrastou Thomas Müller para o meio. Deu certo. Contra a Argélia, manteve o time que vinha empacando. Quase perdeu a partida, sofreu pressão, sem ninguém para apoiar nas pontas. Na prorrogação, com Mertesaker lesionado, Löw não teve escolha a não ser devolver Lahm à direita, dar velocidade às pontas e pôr Schürlle de centroavante. Deu certo, Alemanha nas quartas. Contra a França, quem foi ao Maracanã pôde ver a diferença tática da equipe que enfrentou a Argélia. Klose de centroavante, time mais veloz e compactado. Mais um sucesso. Na semi, novamente, o mesmo time, contra o Brasil. Não é necessário dizer o que aconteceu...

 Na decisão, com Klose já consagrado, sem Reus, Khedira e Mertesaker, Kramer foi mais um a deixar o campo. Löw, sempre ousado, trocou o volante por mais um centroavante, que atuou como ponta. Schürlle, seu homem de confiança, desequilibrou. Na prorrogação, Klose foi substituído por Götze. Todos imaginariam Schürle como centroavante e Götze na ponta. Nada disso. O menino baixinho se infiltrou na área, e o grandalhão Schürlle fazia a festa na esquerda. Mias uma vez, deu certo. velocidade do gigante pela ponta, passe e gol de artilheiro do pequenino de 22 anos, que na grande área, tornou-se enorme.

 Paciência, persistência, continuidade, planejamento, disciplina, diversidade tática e técnica. Sobram adjetivos e características para esta seleção campeã do mundo. Venceram a Copa das copas, souberam enfrentar dificuldades, ter cautela e, principalmente, aprender com os erros, desde o tricampeonato, até o novo sucesso.

 Que o Brasil reflita, pois se com o susto de 2000 a Alemanha se reergueu, o fracasso de 2014, pode um dia, ser a grande chave para a volta do nosso sucesso. No dicionário alemão, Fracasso é Ausfall. Na ideologia Alemã, Ausfall é simplesmente Lernen. A partir do Lernen, se obtém o tão sonhado
Erfolg. SUPA DEUTSCHLAND!


GERMANY
1954 - 1974 - 1990 - 2014
  
* Lernen: aprendizado
*Erfolg: sucesso