terça-feira, 3 de março de 2015

Botafogo 1x0 Flamengo - Não o provoque o gigante. Ele pode acordar.

  Se há acontecimentos tão concretos quanto a chuva no fim da tarde verão, ou o calor no deserto ao meio dia, um deles é bem conhecido pelo povo carioca: O botafoguense sofre. E como sofre. Sofredor de carteirinha. Vence sofrido, empata sofrido, perde sofrido. Já sofreu, sofre e sofrerá eternamente, não importa quantas palavras derivadas do verbo "sofrer" sejam decifradas por aqui.
 Há de se ter muita coragem para torcer e apoiar clubes que passam pelos mais absurdos revés. Ainda mais o Botafogo, clube perseguido por circunstâncias e detalhes mínimos, que no fim causam diferenças máximas contra o mesmo.

 Amar um famoso "gigante adormecido" do futebol mundial é algo enigmático. Apenas o sofredor apaixonado pode compreender o que aqui digo. Imagine-se deitado em uma cama, dormindo ao lado de alguém enorme e espaçoso (não levem a situação ao outro lado da moeda). Este homem está com muito sono, num coma prolongado até a famosa data de "só Deus sabe quando". Porém, de vez em quando, ao ouvir ruídos que o incomodam, ronca mais alto. Ao escutar sons que o perturbem, chega até a resmungar, de forma assustadora, tal como um sonâmbulo. Ao sentir-se desconfortável, agita-se de um lado para o outro, ajeita o cobertor e o travesseiro de maneira brusca, estremecendo toda a cama.

 O "gigante alvinegro" assemelha-se à lenda do Bagre oriental "Namazu-e". Vulgo rei de todos os bagres, Namazu é um peixe assustador, equivalente a centenas de tubarões. Reza a lenda que ele é contido por um guerreiro, que põe sobre sua cabeça uma pedra, impedindo-o de se mover. Porém, as vezes, o guerreiro se distrai, deixando a fera sacudir-se e quase escapar. Ao se mover, Namazu-e causa inúmeros terremotos no planeta, provando o quão necessário é o seu adormecer para aqueles que lutam para sobreviver.

 Pois bem. Aqueles que temem o despertar do gigante adormecido do Rio de Janeiro, por muitas vezes, ousam cutucá-lo com vara curta. Azar o deles.
Aliás, o Botafogo não apenas é um gigante adormecido. O glorioso é também um velho malandro, tal como os que dominavam as ruas e vielas cariocas em meados do século XX. Malandro dorme, come e vadia. Mas quando o assunto é festa... Opa! Malandro pula da cama na hora, veste-se chamando a atenção e se destaca, seja com um simples chapéu de côco. Uma navalha, ou até mesmo um anúncio de venda de smartphone estampado na camisa. Malandro busca os holofotes. 
 Malandro alvinegro disse em 1972: "Aniversário do Flamengo? Simbora, cumpade!" Fim da festa, Botafogo 6x0 Flamengo.
 Malandro em 2013 avistou no facebook: "60 anos do galinho? Tamo junto!" Botafogo 2x0 Flamengo
 O mesmo malandro, agora em 2015, em tempos de instagram: "Car@#!#, dormi pra cacete. Despedida do Léo Moura? #Rio450Anos ? #Partiu ." O Rio de Janeiro merecia uma bela festa. E recebera. Em preto e branco, tal como nos antigos filmes da cidade maravilhosa.

 Favoritos, os rubro-negros, pareciam confiantes e audaciosos, dentro e fora de campo. Ingressos esgotados, time entrosado, tudo e mais um pouco a seu favor, como sempre. Infelizmente, não contavam com a ironia do destino. Tal ironia gigante...
 A torcida do Botafogo, em menor número, calou a massa rubro-negra extensa pelo Mário Filho. O escrete alvinegro, mais barato e menos experiente, deu um banho de água fria em seus rivais. Renê Simões, muito menos vitorioso que Luxemburgo em sua carreira, engoliu o famoso treinador taticamente. 
 A sacada de Jardel logo no primeiro tempo, o time espelhado, compactação e marcação individual. Entrada de Gegê, a segurança da zaga, o toque de bola confiante e preciso, a genialidade espetacular e um tanto normal do goleiro Jefferson (já se era esperado).
 O "chega pra lá" de Bill em Bressan e Wallace. Enigmaticamente, aquela cena deixava duas mensagens: "Aqui o malandro sou eu. Mete o pé." "Cala a boca! Quer que o gigante acorde?!"

 E acordou. Tomas, o menino do boa, o prodígio da série B, entra para uma extensa lista de carrascos rubro negros que vem de Mimi Sodré, Heleno de Freitas e Ziquinha a Alex Alves e Gegê. Ajuda divina da trave, que nos prejudicara duas vezes em cobranças de falta. Sorte do Bota. Azar de Paulo Victor. O gigante parece estar sonhando. Relembrando 95, 68, tempos de Garrincha ou Loco Abreu. De olhos fechados, o tal homem sonolento pula na cama. O bagre foge de seu guerreiro. O malandro aperta o gatilho e atira para o alto. O chão treme, a festa agita, o couro come! O Maraca é preto e branco. Só se ouvia a minoria alvinegra, do início ao fim.


 Pois bem. Bill falou. De tanto falar, profetizou. O dia em que os desconhecidos alvinegros, sentiram o gosto do gigantismo. Deu Botafogo. Corre, Cirino! Bye Bye, Léo Moura! Parabéns, Rio! E até breve, Maraca. Logo serás pintado de alvinegro novamente, e quem sabe verás a 21ª volta olímpica. Quem sabe, desta forma, o gigante não chegue a despertar de vez.

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