quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Sinônimos diferenciados

Na ingenuidade tampouco perspicaz da vida, via a vida e as histórias de duas maneiras; o certo e o errado. O sucesso e o fracasso. Equívoco.

Sim, antecipo a tua fala. O discurso clichê – e correto – de que as derrotas e os erros nos dão aprendizado, resultam em experiência, esperteza, malandragem – no bom sentido – essência à alma que virá a enfrentar muito do pior. Equívoco? Sim, novamente.

Pois bem. A falta de experiência que aqui registro não está na busca por compreender a importância dos tropeços. Mas compreender que erros e acertos, sucessos e fracassos, estejam, talvez, entrelaçados por si só. Uma história, aparentemente terminada, enterrada e compreendida como “errada”, vem a dar certo algumas semanas depois, por ironia do destino, na maior improbabilidade, o que faz o certo evoluir para perfeito, mágico, épico – ou errado. Tudo graças ao adjetivo acima, o tal errado, dessa forma julgado, desencadeia no certo. Ou incerto. Vai entender.

O objetivo ao fazer esse confuso e inquietante jogo de palavras é justamente mostrar quão confusa a vida. Não há certo, errado, fracasso, sucesso. Não existem apenas dois caminhos, nem três, quatro. O caminho é um. Ou nenhum. Talvez não haja caminho. Talvez andemos sem rumo. Ou damos voltas e mais voltas ao mundo, aprendendo tanto que nem percebemos.

Compreendamos que a gramática classifica certo e errado, vitória e derrota, perdas e glórias como antônimos, expressões opostas. No entanto, talvez, a vida tente mostrar-nos que ambas as experiências, se vividas com essência, interpretadas corretamente, sejam sinônimos. Derrotas, vitórias, lutas, glórias. Errado ou o certo. Talvez a vida seja um resumo o errado que deu certo, ou vice-versa. Nunca se sabe.

São os tais sinônimos diferentes. Distintos por detalhes, iguais em uma só história.
Tanta experiência – boa ou ruim – serviria de alguma maneira. Poeta ou não, decifro em versos a minha interpretação, talvez correta, da essência de viver. Vida que segue.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Por que o prêmio FIFA Ballon D'Or é falho

O prêmio da Bola de Ouro da FIFA é entregue em uma ilustríssima festa anual. Tudo do bom e do melhor. Artistas, cerimônia de abertura, produção, apresentadores de ponta e uma cobertura de gala com a presença dos principais craques do futebol mundial, divulgando os principais feitos e nomes do ano. Melhores treinadores, seleções mundiais, melhor jogadora do planeta, destaques, o gol mais bonito e, especialmente, o prêmio de melhor jogador do mundo na temporada em questão.

 No entanto, tratando-se de FIFA, a frase é uma só: se engasga com mosquito enquanto engolem elefantes - mas não os brancos. No caso, de ouro.
 Segue abaixo a lista de jogadores, capitães e treinadores que votam e elegem os principais candidatos a melhor jogador do mundo. 

Fonte: Globo Esporte

Além de alguns jornalistas escolhidos, grande parte dos votos está nas mãos dos treinadores das seleções e de seus respectivos capitães. Na lista acima, é inegável não notar o tendenciosismo na maioria dos votos. 

 Enquanto Messi e Neymar votavam apenas jogadores do Barcelona à lista dos três finalista e o treinador do clube catalão, Luís Enrique, ao cargo de melhor em seu posto, Cristiano Ronaldo votava em três do Real e em Carlo Ancelotti, ex-treinador do clube merengue. Schweinsteiger, capitão da seleção alemã, optou por votar em dois companheiros de escrete como melhores do mundo. Joachim Low indicou três alemães, e ainda por cima Pep Guardiola como melhor treinador, até então no Bayern, principal clube da Alemanha.

Tata Martino, treinador argentino, talvez tenha sido o exemplo mais alarmante do tendenciosa votação, ao lado de Jorge Sampaoli, técnico chileno. Enquanto Tata votava em três jogadores argentinos, Sampaoli indicava Alexis Sanchez e Arturo Vidal a segundo e terceiro melhores do planeta, ambos da seleção chilena. 

 Pois bem. Opiniões a parte, não há nada de opinião na lista acima, pelo menos nada sincera. Ou, ao menos, é o que menos se vê.  Convenhamos, cara de pau maior não há.

 A solução estaria em dois caminhos: o primeiro seria conscientizar os bondosos e digníssimos capitães e treinadores de que não é sensato indicar a premiação de acrodo com seus respectivos interesses; a segunda seria pôr a premiação nas mãos dos principais jornalistas, grandes craques do futebol e dar direito de voto exclusivamente àqueles que não têm envolvimento algum com o sequer algum candidato à bola dourada.

 E quem dera fosse possível realizar a primeira ideia. Pulemos para o plano B. Ou a bola de ouro poderá ser chamada de ouro ao pé da letra, como nas grandes joalherias: paga-se mais, ganha. 


Daniel Oliveira Braune
#LaColuna13

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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Petkovic recusou o Vasco para seguir no Criciúma. Resultado: demitido meses depois

Há pouco tempo, relatei na minha última pesquisa a falta de respeito e planejamento dos clubes com os treinadores do Brasil, cada vez mais despejados e em uma constante "dança das cadeiras", um verdadeiro rodízio de nível nacional e, como previsto, essa realidade se agrava mais a cada dia.

Além de mais quatro demissões registradas dentre os clubes da primeira divisão nacional, um outro desligamento me chamou a atenção nessa semana. Petkovic e toda a sua comissão técnica foram demitidos do Criciúma com menos de três meses e meio de trabalho na segunda divisão do campeonato brasileiro, Pet deixou o clube na décima primeira colocação da série B com 24 partidas, somando apenas cinco derrotas.

O sérvio declarou à ESPN no programa "bate-bola" que se surpreendeu com a decisão, e não é para menos. Em seu primeiro trabalho como treinador, Pet foi autor de improváveis e positivas proezas. Pegando um time desacreditado para torcida e imprensa, conseguiu levar o tricolor predestinado ao grupo de acesso à série A e manteve-se lá por boa parte do campeonato. Além disso, obteve uma sequência de 11 partidas invicto, tanto no brasileirão quanto na Copa do Brasil, competição onde classificou o time às oitavas de final, sendo eliminado pelo Grêmio - uma das sensações da temporada - nas penalidades, ainda por cima vencendo o tricolor gaúcho dentro de sua arena.

Com algumas oscilações, muitos empates e uma posição nula na tabela, Petkovic fora mandado embora, mesmo após recusar convites de gigantes do futebol brasileiro para honrar a palavra e seguir o projeto com o tricolor catarinense - Fui convidado pelo Vasco da Gama, para recusei. Não podia deixar o Criciúma - afirmou o treinador.

Criciúma demite Petkovic, que poderia estar no Vasco hoje.

No entanto, a diretoria do Criciúma não parece ter vangloriado a saudosa atitude de Petkovic, muito pelo contrário. Aparentemente, a cordialidade do sérvio de recusar salário e visibilidade maior pelo projeto do clube de nada adiantou, ou melhor, foi ignorada. Ignorada da mesma forma que seus números, feitos, vitórias e superações, no primeiro trabalho de um técnico de futebol. Logo de cara, Pet já teve em prática a noção de que mudou de profissão. De jogador de futebol a copo descartável. 

Se muitos criticaram Eduardo Baptista por ter abandonado o trabalho com o Sport para comandar o Fluminense, faço-lhes a pergunta: E se Baptista fizesse como Pet? O provável destino seria o que todos os treinadores, novos ou experientes, estão acostumados a ver no país da bola; um ambiente similar ao de uma lixeira de um escritório - repleta de copos de plástico. Usados quando cheios, despejados assim que a água acaba.

Uma hora os copos podem acabar. Teremos de beber com as mãos.


Daniel Braune

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Copos de Plástico – os treinadores no Brasil

Quando falávamos no país da bola, há alguns anos, era impossível não pensar antes de mais nada em genialidade, talento ou irreverência. Infelizmente, a realidade atual é outra. Foi-se o tempo. Atualmente, quando ouvimos falar de Brasil, pensamos sem titubear em desordem, corrupção e atraso.

Talvez o terceiro adjetivo citado acima seja o que melhor define a atual conjuntura. Empresários e agentes tendenciosos, diretorias amadoras, "cartolões" corruptos e conchavos suspeitos. Um sistema quase absolutista que, no fim das contas, reflete dentro das quatro linhas do território nacional.

Dentre inúmeros problemas e erros que acercam o futebol no Brasil, um dos mais agravantes e notórios é a famosa e comum política do treinador descartável. Esse tipo de tendência tomada pelo amadorismo administrativo dos clubes brasileiros não é nenhuma novidade, mas sim um velho e tradicional costume, que vem desde os primórdios do mundo da bola no país. O espanto se dá levando-se em conta de que esta prática é cada vez mais agravante, ano após ano.

Em pouco mais de meia temporada, dez dentre os considerados 12 gigantes já haviam trocado seus treinadores pelo menos uma vez. Desses dez, cinco executaram duas trocas, ou seja, já obtiveram três treinadores em apenas nove meses. Em média, um prazo de noventa dias de paciência, ou melhor, impaciência cedidos para convencer, ou até menos, tal como a passagem relâmpago de Ricardo Drubsky no Fluminense. Dois meses, oito joguinhos e um frio adeus.

A falta de paciência e o peso da responsabilidade todo jogado no colo de um indivíduo, a incoerência e a emoção frente à razão dos dirigentes brasileiros podem ser a explicação dos atos precipitados que deixam nosso progresso de lado, numa filosofia regada de ingenuidade. No Botafogo, Renê Simões fora demitido após um vice-campeonato estadual extraordinário e deixando o alvinegro na liderança da segunda divisão, caindo após uma sequência de jogos ruins e apenas duas derrotas na série B, o principal foco da equipe na temporada. Como resposta, o glorioso obteve mais três derrotas após a troca. No Internacional, Diego Aguirre era mandado embora após conquistar o campeonato estadual, chegar às semifinais da Libertadores por uma queda de produção no campeonato brasileiro. Como consequência, uma goleada humilhante sofrida para o rival Grêmio por cinco a zero, logo na rodada seguinte.

Mas o caso mais absurdo talvez tenha ocorrido há aproximadamente dois meses atrás. Marcelo Oliveira, nome que levou o Cruzeiro ao bicampeonato brasileiro, um título estadual e à histórica marca de clube com mais pontos em uma edição do campeonato de pontos corridos, era mandado embora após a eliminação na Libertadores e uma sequência ruim no nacional.
Embora números e fatos comprovem concretamente que o treinador necessita de projeto, tempo e paciência para levar uma equipe a resultados positivos, nada disso tem sido suficiente para que torcedores, dirigentes e presidentes por todo o Brasil possam compreender essa realidade.

Na Inglaterra, o Manchester United manteve um único treinador por duas décadas, o que levou o clube ao topo do mundo. Na Espanha, Pep Guardiola permaneceu no Barcelona por quatro anos, ingressando o clube na história com um dos times mais eficientes já vistos no esporte.
Em próprio território nacional, inúmeros trabalhos a longo prazo vitoriosos podem ser observados. Oswaldo de Oliveira, levando o Botafogo de volta à Libertadores após dois conturbados anos de trabalho; Abel Braga, conquistando o tetracampeonato brasileiro com o tricolor das laranjeiras; Tite, levando o Corinthians ao topo do mundo após diversas especulações e ameaças no cargo. Após a eliminação precoce na pré-libertadores para o Tolima, jornais já davam como certa a demissão do treinador do Parque São Jorge. Mantido, ao fim do ano, era campeão nacional com o clube.

As claras evidências de que o trabalho a longo prazo é o melhor caminho para o sucesso dos clubes, os passionais cartolas que gerem os tradicionais clubes do nosso Brasil parecem querer ignorar a tudo e, não só seguir a tradição de descartar treinadores, mas agravar ainda mais esse índice.
Na última temporada, até meados do mês de novembro, eram 21 demissões computadas na primeira divisão nacional. Em 2015, próximo ao fim de agosto, já eram 22 treinadores demitidos, ou seja, com três meses de antecedência, a marca já foi atingida e ultrapassada. 

Anos atrás, estávamos acostumados a contabilizar cerca de vinte, trinta demissões nos primeiros meses de temporada. Na temporada passada – ano da Copa do Mundo no Brasil – eram 130 profissionais mandados embora em pouco mais de um mês de início de temporada. Neste ano, em menos de um mês de torneios, já eram 50 nomes no olho da rua. Segundo pesquisas, o futebol brasileiro demite, em três rodadas, mais que em toda a temporada francesa.

A falta de paciência e entendimento dos torcedores, amadorismo administrativo dos clubes e a emoção frente à razão nos aspectos em que devem ser analisados e executados friamente num meio profissional podem explicar os tão absurdos e vergonhosos números no país pentacampeão mundial.
Contratações sem um planejamento prévio, temporadas sem objetivos concretos, clubes entregues ao “vamos ver no que dá”. Atos amadoristas imperam no Brasil, gerando revolta, impaciência e indignação por parte daqueles que carregam o futebol nas costas: os torcedores. Na menção de resolver o problema provisória e rapidamente, cabe à diretoria – que também pensa como torcida, pelo menos no Brasil – sacrificar e dar o puxar o gatilho na direção daquele que mais próximo está: o treinador.

No Brasil, o fatídico atraso em relação ao futebol mais evoluído - especificamente o europeu - pode ser explicado pelo fato de que dirigentes agem como verdadeiros torcedores nos papéis de dirigentes. É como se chegássemos ao estádio, encontrássemos todos de terno e gravata nas arquibancadas, anotando todas as estatísticas e analisando em silêncio à partida. Seria um tanto estranho e, indiretamente, é o que ocorre nos escritórios dos gerentes de clubes do futebol nacional, só que ao contrário. Temos torcedores como dirigentes. Não há reflexão antes das atitudes tomadas, tampouco planejamento, metas ou objetivos. Resultado? O homem à beira do campo paga o pato.

Por fim, cabe a nós refletirmos sobre o que pensamos de maneira generalizada. Tendemos sempre a atirar pedras na CBF e nos chefões da entidade, mas esquecemos que, sozinhos, não estariam por lá. O problema inicia-se naqueles que gerem os clubes, de maneira irresponsável e delinquente, com boas ou más intenções. Vemos talentos desperdiçados, joias sendo enferrujadas, clubes endividados, gigantes tradicionais afundando e, consequentemente, treinadores trabalhadores no lixo, como meros copos descartáveis. Busquemos, ao menos, reciclá-los, se é que me entendem.

Sabe-se lá aonde pararemos. Temamos 2016. 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Déjà vu ? NASL em risco

 Na segunda metade do século passado, surgia a NASL, buscando efetuar os primeiros passos do "soccer" na América do Norte,e já tão badalado no mundo inteiro, menos por lá. Começando com tudo, incluindo nomes como Pelé, Beckenbauer e Carlos Alberto logo de cara, estádios lotados e uma Copa do Mundo no país em 1994 para aumentar a visibilidade, a primeira e até então maior liga de futebol da América do Norte parecia ter tudo para crescer. Pois bem, faliu.

 A falta de planejamento econômico e projetista extinguiu a liga, dando lugarà MLS, que é, até hoje, a grande força do futebol estadunidense, progredindo sem parar.

 Porém, em meados do ano passado, a volta da tradicional NASL começou a ser projetada. A volta de equipes como o Cosmos, a formação de novos clubes, novas tendências e ambições, investimentos em bons jogadores como Leonardo Moura e Kleberson. Grandes ambições com algumas pequenas divergências comparando-a com a primcipal liga norte-americana. Afinal, na MLS, a liga é dona dos clubes. Na NASL, os clubes são donos da liga. Não há teto ou piso salarial, e os clubes tomam suas decisões próprias.

 Mas por que essa diferença se as principais páginas de economia e gestão rasgavam elogios ao esquema da MLS? Simples. Duas das principais empresas de base econômica da Nationa American Soccer League são Traffic e 9ine, as mesmas também envolvidas em diversas negociações e contratos no futebol sulamericano em especial, envolvidas em acordos com as grandes dinastias "imperiais" que ainda são uma realidade na América do Sul, como AFA, CBF e a própria CONMEBOL.

 Dessa forma, com um esquema impecável, limpo e sem brecha alguma para qualquer tipo de facilidade e penetração de algo "fora dos padrões", a MLS jamais teria qualquer tipo de acordo com certas empresas de marketing esportivo, afinal, não haveria nem um porquê. Portanto, cabia investir na NASL, recheada de investidores sulamericanos, e vender a tal idéia de que, um dia, NASL e MLS se uniriam. Equívoco. Ou mentira. O que preferir.

 Para completar, há quinze dias atrás, a operação lava-jato realizada na FIFA pelo FBI, que prendeu sete chefões da Federação internacional, desvendou escândalos e esquemas multimilionários e obrigou o presidente da entidade, Joseph Blatter, a renunciar de seu cargo, foi uma verdadeira bomba nuclear. Espalhou-se e afetou, direta ou diretamente, o mundo inteiro. Inclusive, agentes como Aaron Davidson, presidente da Traffic, José Hawilla, também agente da Traffic e vice-presidente da FIFA. Uma bomba de efeito moral que afetou até as vozes dos tão lendários Ronaldo (dono da 9ine) e Pelé, envolvidos no mundo dos negócios esportivos.

 Mas devemos ler atentamente. Traffic? 9ine? Já leu esta palavra antes? Déjà vu? Sim, logo ali acima. As mesmas empresas que investem na NASL.

 Sendo assim, vê se a empolgada National American Soccer League começar a tremer na base. Trocedores já não poupam mais críticas, jornalistas, já desconfiados, também alfinetam. Troca nos comandos, entrada e saída de dirigentes e treinadores, como tem acontecido nas últimas semanas aos arredores do FTL Strikers. Fala-se até em falta de estrutura. Ronda-se aos montes notícias de que há problemas de transporte, organização e até falta de vestiários. Segundo especulações, alguns clubes precisam trocar-se dentro de trailers para ir à campo. Além disso, quanto à qualidade técnica, não há necessidade de se comentar nada. Similares aos times de pelada, mas bem longe dos peladeiros brasileiros, afinal, seria um desacato ao futebol brazuca de rua.

 No último sábado, torcedores do Strikers não pouparam críticas a Leonardo Moura e outros protagonistas do elenco, nitidamente desmotivados e pouco preocupados em mudar a situação. além da revolta nítida pela demissão do ex-treinador. Vaias, gritos de protesto e até risadas irônicas. Esta era a reação da nuvem negra que sobrevoava o Lockhart Stadium no último final de semana. Era notório o cheiro de problema se aproximando cada vez mais. O ruído era caótico.

 Eis então a realidade da NASL. Problemas de estrutura, investidores em crise, mistérios desvendados, empresas suspeitas, jogadores sem vontade, tudo mornando, liga devagar quase parando. Déjà vu?

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Strikers fãs protestam.



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                                       José Hawilla e Ricardo Teixeira, fundadores da Traffic


quarta-feira, 27 de maio de 2015

EUA na dança - domando o monstro de Blatter

 Na manhã desta quarta-feira, o mundo acordou turbulento. O barulho tomou conta daquilo que estava em enorme silêncio. Parte do grande sonho daqueles que prezam pelo bom futebol, muito de repente, fora realizado. Seis agentes poderosos da FIFA presos por suspeita de corrupção e recebimento de propina na escolha do país-sede da Copa do Mundo de 2022. Dentre eles, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin.

 A notícia repercutiu em todos os jornais, de diferentes línguas e locais, de opositores a omissores. Na África que apenas acata às ordens, na América do Sul que joga ao lado da FIFA e na Europa, que vai contra. Sem falar dos Estados Unidos... Pois lá principalmente. Por que será?

 Para quem acompanha o futebol e conhece a respeito do histórico da entidade máxima, o porquê do decreto não é nenhum mistério. Que os chefões mafiosos da entidade máxima do futebol são ligados a esquema da cabeça aos pés, já não é novidade. Mas a grande dúvida era: COMO conseguiram indiciá-los? E QUEM teve tamanha audácia e coragem de enfrentar os tão poderosos e perigosíssimos senhores da FIFA?

 O mandatário da ação não poderia ser outro. Federal Bureau of Investigation, mundialmente conhecida como FBI. Talvez a agência mais forte e poderosa de segurança no planeta, e a entidade máxima de segurança de um certo país: Estados Unidos da América. Aquele mesmo citado no segundo parágrafo, como o país em que mais se falou sobre o escândalo do dia.

 A cada ano, o futebol nos Estados Unidos cresce e tende a crescer ainda mais. Já multicampeões olímpicos, potência na natação, vôlei, força máxima no basquete e no baseball e criadores do futebol americano, só faltava à terra do Tio Sam enquadrar-se no meio do esporte mais popular do mundo.

 A evolução interna já é um trabalho que vinha sendo feito, Formações de ligas, pirâmides organizadas, categorias de base, formação de jogadores, investimentos cada vez maiores, grandes astros atuando em solo americano. Faltava expandi-lo território à fora. Sediar a Copa do Mundo de 2022 seria um grande passo.

 Era nesse ponto que vinha o problema. No mundo do futebol, para se obter sucesso, é necessário andar ao lado da FIFA. Se não ao lado, ao menos não interferir em suas jogadas e tramoias. O lucro, o sucesso e o reconhecimento paravam no bolso, no paletó e até dentro das gravatas dos poderosos chefões. E quem fosse contra, poderia até acordar coma bola cheia de formigas.

 Mas o que os chefões da FIFA não notavam era que o país mais polêmico do mundo vinha com força ingressando-se no maior esporte do mundo. Estados Unidos da América, a máquina de negócios, não queria saber de conversa com chefões. Muito menos em respeitar suas falcatruas. Deu no que deu. E é só o começo.

 Diversos outros casos e agentes vem sendo investigados e revelados, um atrás do outro. Investigações sobre copas de 2010 e 14, vendas de direitos da Copa do Brasil, escândalos na CONCACAF, tramas na agência TRAFFIC. Fala-se até em adiamento de eleições presidenciais. Ao redor do mundo, diversos jornalistas devem estar bem satisfeitos, como Andrew Jenning (autor de "Jogo Sujo"), Juca Kfouri e Jamir Chade. O senador e ex-jogador Romário também demonstrou extrema felicidade. Mas é bom se ter cautela.

 O mundo inteiro vem batendo palmas à agência americana e à polícia suíça, que tiveram a coragem em prender os diabos vestidos de terno, mesmo que apenas uma pequena minoria. Pois entendam que há de se entender que existe uma luta por interesses, não é nada por honra ou justiça. Se fosse por isso, quase a FIFA inteira deveria estar na cadeira desde os seus primórdios. Aliás, não poderia nem existir. Se esta ação fosse um "basta" na corrupção em nome da honestidade, não ocorreria apenas agora, logo no momento de maior crescimento do futebol nos Estados Unidos. Que saiam do trono os poderosos da fifa, mas que o imperialismo seja por fim exterminado.

 Portanto, uma guerra fria no mundo da bola acaba de eclodir, e promete ser longa. Dois gigantes bateram de frente, lutando por seus interesses. Estados Unidos da América e FIFA. Um país sempre almejando crescer sem se importar com nada abaixo de si, enfrentando o verdadeiro monstro comandado por Joseph Blatter e sua turma. E Que Deus proteja o futebol.

 Amém.


Daniel Braune

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terça-feira, 19 de maio de 2015

Boca Raton FC - resultados de profissionalismo


 O Boca Raton Football Club é uma equipe de futebol ainda com investimentos básicos, aprendendo a andar e virar-se no maior esporte do mundo. Um recém nascido criando asas, buscando seu caminho. Mas enquanto deveria estar ainda engatinhando, o tal pequeno clube já levanta-se e almeja caminhar por aí, superando as expectativas de uma instituição que possui apenas alguns meses de vida.

 Na última sexta-feira, o clube do sul da Flórida realizou sua segunda partida na APSL no seu verdadeiro alçapão "the Shipyard". Em um jogo muito movimentado e de muitas oportunidades criadas, o Boca Raton saiu derrotado dentro de campo por 1 a 0 pelo Miami Date.

 Mas os números mostram que, se houve derrota, a mesma aconteceu apenas entre as quatro linhas. Fora delas, o clube continua mostrnaod força e organização de gente grande, que muitos clubes espalhados pela América do Sul e Europa não possuem. 

 Com inúmeras atividades e atrações ao longo da partida, o resultado não poderia ser outro que não fosse a casa cheia. Se a média de público da APSL chegava aos modestos 130 expectadores, o Boca Raton simplesmente engoliu sem dó estes números. Com públicos alcançando os 519 e 600 pessoas nas primeiras duas partidas oficiais o clube, respectivamente, é notória a diferença de organização e as ambições do clube em relação aos demais participantes da liga.

 - Nós temos alguns times competentes aqui na liga. O Red Force, o Uruguay e os que aqui se enfrentaram hoje são os mais capazes de almejar algo grande. Mas sem dúvidas não há outro clube na liga com uma estrutura que o Boca Raton tem aqui. Tudo funciona, o público é atraído, a casa enche. Animação total. O futebol acaba virando detalhe, é uma festa - Disse Roberto Linck, dono do Miami Date FC "- Aqui o trabalho de vocês é profissional, uma estrutura que os outros clubes não tem. Em questões estruturais, aqui é um nível muito acima."

 Com animações que atraem o público jovem e as famílias, um bom e coerente calendário de horários, atividades que impressionam os investidores e até as autoridades da cidade de Boca Raton. Não é à toa que a média de público é simplesmente cinco vezes maior que a do restante da liga inteira sozinha.

 O projeto é tão ambicioso que, brevemente, há a possibilidade de já haver esgotamento dos ingressos na próxima partida, ou seja, alcançando um público superior a três mil pessoas em um jogo de Division 4 de um esporte que ainda está em processo de formação, podendo ter números superiores que os de muitos jogos do campeonato brasileiro, por exemplo. Na abertura do torneio, Sport x Figueirense se enfrentaram na cidade Recife para pouco mais de 3 mil pessoas. Isso mesmo. O modesto Boca Raton, de uma liga regional, pode sim atingir os mesmos números que a primeira divisão nacional do país pentacampeão mundial. É a maior prova de que vive outra realidade.

 O profissionalismo fala alto no Sul da Flórida. Organização e profissionalismo vêm dando resultados e comprovando o crescimento antecipado de um bebê que nasceu prematuro. Enquanto ainda era para estar no berço, já buscar andar. Brevemente, aprenderá a falar. Gritar e, quem sabe, rugir.

crowd 2

domingo, 17 de maio de 2015

Empolgação é a palavra-chave - Strikers 0x0 Atlanta

 Pela NASL, o novato Strikers Fort Loderdale realizou mais uma partida de início de temporada. Num zero a zero daqueles bem mornos e desanimados, a equipe de Leonardo Moura saiu de campo com um ponto conquistando e ocupando a terceira colocação na liga, sem vencer e nem convencer.

 Ao redor do estádio, uma festa por si só. Filas nas barracas de camisas, crianças como o principal público, atrações e atividades futebolísticas aos jovens, organização de primeiríssima qualidade. Tudo esquematizado e avançado até demais para uma equipe que nascera há alguns meses atrás. Uma verdadeira febre.

 Mas após a partida, o clima no Lockhart Stadium com silêncio e desânimo passava apenas uma mensagem: O Strikers saiu devendo. Afinal, o fator casa é uma das principais armas da equipe na busca pelo sucesso na NASL. Faltava algo.

 Repleta de jogadores latino americanos, a equipe mostrou que o entrosamento ainda é um problema. Muitos passes errados, falta de padrão de jogo e armações, pouca criatividade e, principalmente, erros grotescos nas conclusões eram notórios no empate sem gols e sem tempero no sul da Flórida.

 - Faltou o último passe. Nossa equipe vem trabalhando bem, mas ainda estamos nos adaptando. Infelizmente o último passe não saía e o objetivo (o gol) não pôde ser alcançado como esperávamos - Disse PC, lateral brasileiro do Strikers, explicando a respeito do que havia faltado para se chegar ao gol - Estamos no caminho certo. estamos nos conhecendo, procurando o entrosamento o mais rápido possível para os resultados acontecerem. Agora é esfriar a cabeça, manter o foco e trabalhar para o segundo jogo. 

 Analisando, o último passe pode sim ter sido uma peça ausente durante toda a partida, mas está longe de ser o único problema. Com pouca organização tática e ambição dentro de campo, o time do Strikers ainda tem um bom caminho a percorrer se quiser encontrar um padrão futebolístico com visibilidade. A disciplina tática e de posicionamento são critérios a serem lembrados.

 Leonardo Moura atuou como armados na primeira etapa. Perdido e sem opções de passe, pouco produziu, assim como o restante da equipe. No segundo tempo, jogou na sua posição de origem, como lateral direito. Apoiou e marcou o tempo inteiro, gerando mais movimentação ao jogo e um pouco mais de virilidade à equipe, que começou a explorar o lado direito do gramado. Por três oportunidades em jogadas iniciadas por Léo na direita, o gol quase surgiu.

 Embora seja o mais habilidoso, Leonardo mostrou que pode render muito mais atuando na sua posição de origem, na qual fez tanto sucesso com a camisa rubro-negra. Colocá-lo como armados não só desestrutura a tática da equipe, como confunde a equipe e não produz um padrão de jogo. 

 Além da falta de um padrão básico, os suportes técnicos da equipe limitam muito seus ataques e formações de jogadas. Com isso, não há criatividade nos setores e pouquíssimas são as oportunidades criadas. E quando produzidas, são desperdiçadas por erros de passe ou finalizações mal feitas. 

 Portanto, se nos Strikers a organização fora das quatro linhas é uma fórmula para o sucesso, há também de se olhar para dentro dos gramados. O clube vem tornando-se uma febre nos corações do povo do sul da Flórida com o passar do tempo. Mas para manter o seu público focado ativamente, é necessário "empolgar". Só dessa forma, o sucesso máximo será alcançado. 


Daniel Braune

sábado, 16 de maio de 2015

O Nilton do impossível - colorindo o preto e branco. Noventa anos de enciclopédia.

 O planeta em que vivemos é estonteante. Histórico, turbulento, intenso. Repleto de acontecimentos históricos e inúmeros detalhes efêmeros a cada dia, desde seu primeiro dia, mesmo nem se fazendo ideia de quando essa saga iniciou-se.

 Culturas diversas e contos controversos, repleto de diferentes versões, em meio a tantas dúvidas, há de se ter uma certeza. Guiado és o caminho percorrido por nós. Encaixes perfeitos e detalhados como os de um quebra-cabeça chinês. Costuras na medida exata, como as daquela velha senhorinha fazendo agasalhos com as mais apuradas habilidades com as mãos. O destino não deixa falhas, apenas exemplos. Com finais felizes ou não, possuem sempre um porquê. O destino nunca falas em vão.

 Há de se crer, aos que possuem a mente aberta, de quando se fala em predestinação, o Botafogo és cúmulo. Ai final do século XIX, remadores fundaram o clube, inspirando seu símbolo naquela que mais brilhava nas madrugadas rotineiras na lagoa Rodrigo de Freitas, antes de seus treinamentos: Estrela solitária. Conduzida pelo destino, traçada a conduzir-nos. 

 Assim como sua história, o Botafogo é puro. Nasceste do que parecias uma brincadeira, para tornar-se algo sério. Se no começo abstrato, ao longo tornava-se concreto, Gigante, esplendoroso, cada vez mais rico de histórias. E como todo gigante de fato, necessitava de uma base. Ou seja, seus protagonistas.  É nesse momento que Deus se enquadra no glorioso e lendário caminho preto e branco. Daqueles bem descoloridos, como os filmes e fotografias antigas: HISTÓRICO.

 16 de maio de 1925. Nascias Nilton dos Santos. Não apenas um protagonista, mas sim o personagem principal da história do Botafogo. Da infância difícil na Ilha do Governador à glória, em ser o condutor de um gigante, já dito como um dos maiores times da história do futebol. Talvez, o maior de todos.

 Começara fazendo história logo de cara, em 1948, quebrando o primeiro jejum de glórias alvinegro. Batendo o Vasco da Gama na decisão, o Botafogo conquistava o título estadual ausente há mais de doze anos. Nilton já iniciara provando suas ambições.

 De personalidade forte, audacioso e líder por si só, Nilton atraía todos os acontecimentos a seu favor. Nilton fazia o bom permanecer bom, e o ruim, tornar-se maravilhoso. Em 1953, um pobre rapaz de pernas tortas chegara a General Severiano para fazer um teste no clube. Em questão de segundos em campo, pôs a bola por baixo das pernas de Nilton Santos por duas vezes e fez o treinamento ficar sem graça. Nilton então, soube ser decisivo, até no pior momento: "tragam esse rapaz agora. Não me façam enfrentá-lo de novo. O ponham no time o mais rápido possível."

 Há quem diga que com o passar dos anos após este dia mágico, Manoel dos Santos Garrincha tornara-se o maior jogador da história do Botafogo. Mas poucos sabem que sem Nilton, essa genialidade real seria apenas ilusória. Talvez a história do Botafogo não fosse tão rica. Com certeza o futebol não seria tão amado. Se houve um "anjo das pernas tortas", foi graças a um saudoso "Deus de bigodes." Não só companheiro, como com o passar do tempo, acabou-se por torna-se um verdadeiro pai que Mané nunca tivera a oportunidade de ter e espelhar-se. 

 Se o simples Manoel tornara-se Garrincha e o Botafogo o temido clube que estampava as capas dos jornais de todo domingo como "Quem será a próxima vítima do alvinegro", tiveram como base, um ser. Duas palavras. Uma lenda. O maior lateral esquerdo de todos os tempos.

 Não só habilidoso e esplendoroso, como também revolucionário. Assim chegam, agem e se vão os protagonistas enviados por Deus. Se em 1950 fora barrado do time por não usar chuteiras de bico grosso como as de um defensor padrão, havia um motivo. Pela primeira vez um lateral possuía liberdade. Se antes os gritos de "Volta, Nilton!" ecoavam na beira dos gramados em partidas de Brasil e Botafogo, hoje tornam-se apenas berros irônicos, que enfatizam registros metafóricos a respeito de Nilton. Se na França há dois séculos anunciava os princípios de liberdade, no campo o iluminista eras um só: A enciclopédia.

 De cada ato, uma história. Da comida roubada dos restaurantes na copa de 54 ao passo à frente que enganara a arbitragem em 58. Esplendoroso, genial, macaco velho desde cedo. Malandro quando convinha, sábio quase sempre. Fez o Botafogo tornar-se maior do que já eras. De gigante, ganhara também um novo adjetivo: apaixonante. Não há como não amar o futebol e desconsiderar o alvinegro carioca. Graças a Nilton, o Botafogo tornara-se preto no branco. Que em breve, o azul do engenhão dê lugar ao "colorido" alvinegro pintado por Nilton Santos. Noventa anos santos, histórias rudemente escritas, impossíveis de serem apagadas. Deus traçara o destino.

 Já dizias Armando Nogueira, nas mais belas crônicas que um gênio literário dedicara à uma lenda.

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"Tu em campo, parecia tantos
No entanto, que encanto!
Eras um só: Nilton Santos."


Mas o próprio Armando sabias que verso algum chegaria aos pés de uma enciclopédia.


Daniel Braune

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terça-feira, 5 de maio de 2015

Mensagens no ar, um fato se construindo - Um gigante em formação

 O Boca Raton FC teve de esperar m tanto para finalmente poder estrar na APSL. Nas primeiras duas datas marcadas para jogos, duas desistências por parte dos adversários, por desligamento das equipes da liga por falta de investimento profissional, amadorismo a parte. Talvez nessa questão se inicie a essência do profissionalismo nos soccer americano e na importância de um clube formado com seriedade e planejamento.

 Mas após estas duas verdadeiras mensagens subliminares, digamos, "provas" de que o Boca é um clube formado para se agigantar ao longo do tempo, chegara o momento de apresentar, na prática, o projeto investido na nova mina de ouro que é o soccer nos Estados Unidos.

 No dia primeiro de maio (no Brasil celebrado como o dia do trabalhador), nada melhor que comemorar o suor que derramamos todos os dias em turnos de trabalho. E nada mais nada menos que isso fizeram os prodígios da equipe do leste da Flórida.

 Preparados física e taticamente, os prodígios comandados por CJ e Nickardo foram à campo no Boca Raton High School stadium, encarar o South Florida. O prefácio de praticamente todo bom brasileiro acostumado a acompanhar futebol seria aquela velha correria e bico pra frente, como era o futebol estadunidense há seis, sete anos atrás. Mas aqueles que assistiram ao jogo de sexta-feira, puderam ver que as coisas por aqui mudaram.

 Para uma equipe que realizava a sua primeira partida oficial de sua história, o escrete titular do Boca Raton parecia ter um entrosamento na troca de passes de uma equipe que já trabalha junta há anos. Toques de primeira, viradas de jogo, belas infiltrações, jogadas ensaiadas, enfiadas de bola magistrais, principalmente quando criadas pelo armador CJ. No futebol brasileiro, vemos a maioria de times formados recentemente necessitarem de quatro a seis meses para poderem finalmente ditar um real padrão de jogo. A aplicação tática e técnica dos modestos jogadores da Division 4 vieram a tornar esta barreira mais fácil de ser ultrapassada.

 Com Bruno avançando pelas pontas com velocidade e Nickardo aplicando um belo trabalho de pivô, só faltava cautela na hora de finalizar e concluir as jogadas com precisão. Fora o contraponto, tudo perfeito e esquematizado, inclusive a defesa, segura e fazendo o famoso "arroz com feijão" lá atrás.

 Um gol sofrido no início da segunda etapa foi essencial para uma vitória que viria a ser construída no fim. Obrigados a partir para cima, a garotada do Boca Raton usou, além da brilhante troca de passes, aquilo que possui de diferencial mediante todas as outras equipes da liga: O preparo físico.

 Com o tempo, foi tornando-se difícil segurar o resultado para o South Florida com o cansaço cada vez maior. Era notório que com a organização e o gás juvenil, a equipe da casa viria a abrir os trabalhos logo. Demorou, mas aconteceu.

 Faltando dez minutos para o encerramento da partida, dois gols em questão de segundos. Um na bola aérea, o outro na ligação direta. Minutos depois vieram mais dois, em jogadas trabalhadas na troca de passe e contra-ataque explorado, já que o South Florida foi obrigado a abrir o jogo.

 Ao final, goleada merecida ao time da casa, que em sua primeira partida oficial na história, já quebrou recordes extracampo, colocando 516 fãs nas arquibancadas. Pode parecer pouco, mas não para uma liga regional de quarta divisão de investimento, no qual a média é em torno de 130 espectadores.

 Trabalho realizado pelo Coach Castillo, preparo físico trabalhado, entrosamento rápido e casa cheia para dar o gás ao time. Mal chegou o Boca Raton FC e já mostra a sua facilidade de crescer. Um novo gigante começa a ser formado. Mas sejamos cautelosos, esperemos e deixemos os frutos amadurecerem. O jogo apenas começou.


Foto de Boca Raton Football Club."Photos by: Rosa Cavalcanti"

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Explicando a polêmica das arquibancadas na final do Cariocão - A imprensa precipitada

Durante toda a semana, nada tem sido mais comentado na imprensa  que a final do campeonato estadual no ano do aniversário de 450 anos da cidade maravilhosa, que talvez tenha sido, também, o mais polêmico dos últimos anos nos fatores exteriores às quatro linhas.

 Após diversas brigas, controvérsias e desavenças envolvendo FFERJ, Eurico Miranda e a dupla Fla-Flu, nada mais normal que finalizar o estadual com a palavra que define o cariocão 2015: Polêmica. Em itálico, para soar mais poético.

 Na espera de 12 anos desde a última conquista, o Vasco chega à final do estadual podendo empatar a partida para alcançar o título. Com isso, a torcida cruzmaltina esgotou os ingressos do setor sul (destinado somente a torcedores vascaínos) e comprou grande parte das cadeiras dos setores mistos (leste e oeste), ignorando sites travados e problemas nas vendas online, chegando a ocupar filas em pontos de venda já pela madrugada da quarta-feira. Enquanto isso, a torcida alvinegra, seguia ocupando as cadeiras do setor norte (destinado à torcida do clube da zona sul). Sem pressa, vagarosamente, sem a mesma euforia dos rivais, que estão dez anos a mais à espera do 24º caneco que os mesmos do 22°.

 A polêmica inicia-se quando surgem, por parte da imprensa irresponsável e louca por passar informações de qualquer maneira ao público em busca de visibilidade, boatos que podem causar sérios riscos e fins trágicos a um campeonato que já é polêmico por si só. Seguindo a famosa "lei do exagero" da imprensa, sites e jornalistas começaram a divulgar que a torcida do Vasco estaria comprando ingressos no setor norte, que é direcionado apenas aos torcedores botafoguenses, causando um grande furdunço nas redes sociais. E à medida em que o falatório aumenta, os boatos vêm atrás.

 Fazendo pesquisas e perguntando à pessoas ligadas ao clássico de domingo, é possível notar o enorme exagero que cerca toda essa história. Como em todos os clássicos brasileiros, com a desorganização e o famoso jeitinho brasileiro, torcedores buscam estratégias para pagar mais barato pelo ingresso. Alguns ingressos do já esgotado setor sul vascaíno são adquiridos por cambistas. Ainda na esperança de assistir a partida sem ter de pagar o preço alto das cadeiras do consórcio, alguns torcedores cruzmaltinos optaram por comprar ingressos do setor norte alvinegro e trocar com os cambistas, que possuem ingressos do setor vascaíno.

 "- Muitos torcedores do Vasco manifestaram-se abertamente nas redes sociais à respeito dessa troca, afirmando terem comprado ingressos do setor norte apenas para trocar com quem possuísse os do setor sul. Prática comum, principalmente em clássicos de muita grandeza como no futebol carioca" - afirma Vitor Correa, representante da Fúria Jovem e organizador do mosaico alvinegro na decisão.



 Além do mais, ao contrário do que vem publicando a imprensa, a supremacia vascaína não será assustadora da forma que vem sendo anunciada. O representante da FJB também explicou o fato.

 "- Pelo menos 21000 ingressos são nossos. Os vinte destinados ao nosso setor e 1 mil que foram identificados pela internet como de fato adquiridos por alvinegros. Fora os que não temos como apurar. A proporção é de que 65% do Maracanã seja tomado por Vascaínos. Em pesquisa feita pelo consórcio, a cada 10 ingressos vendidos nas filas, 6 ou 7 eram torcedores do Vasco." - Diz Vitor.

 Em algumas enquetes realizadas por matérias da imprensa carioca, os números de cruzmaltinos no Mário Filho passariam dos 85% da capacidade. O consórcio do Maracanã através do twitter @maracana também publicou uma nota, afirmando que não haverá risco de torcidas em setores diferentes aos previstos e que essa supremacia extrema vascaína é um exagero da mídia. Em seu twitter, o torcedor Vitor citou alguns trechos ditos pelo gerente do consórcio Maracanã a respeito das atitudes da mídia e dos rumores.

 

 O jornalista da ESPN Brasil Mauro Cezar, um dos influenciados e talvez mal informados por todo esse fuzuê, manifestou-se em sua conta do Twitter pedindo para que metade do setor alvinegro fosse cedido à torcida do Vasco da Gama caso o Botafogo não esgotasse seu ingressos até hoje, como se fosse algo simples, justo e seguro.



 Numa final estadual, os clubes, teoricamente, ambas as equipes devem possuir direitos e regalias iguais, para que mantenha-se a ordem do evento. Além de prejudicar boa parte de alvinegros que desejam apoiar seu clube no ano mais difícil de seus 111 anos de história futebolística, a segurança no famoso "clássico da paz" seria colocada em risco, podendo prejudicar a segurança dos que forem torcer. Graças a incentivos como estes, muitos vascaínos podem sentir-se mais à vontade a cometer esse ato de desrespeitoso e gerar uma confusão generalizada nas arquibancadas. Mauro Cezar, excelente jornalista que é, acabou sendo inconsequente pecou muito não só falar sem pensar, como desrespeitou a torcida alvinegra e pode ter causado uma rivalidade exagerada ao Maracanã no domingo, podendo terminar em violência. A polícia já pensa a respeito dos rumores.

 Pois bem. A torcida Vascaína esgotou os ingressos do setor sul na manhã da quarta-feira. Os alvinegros, esgotaram o setor norte à noite. Pequena diferença para que seja pedido por jornalistas metade dos ingressos direcionados à torcida adversária, não?
 Mas o radicalismo acabou por tomar conta da ESPN Brasil na tarde de ontem. Além das precipitadas twittadas de Mauro Cézar, Leonardo Bertozzi também chegou a comentar no programa "Bate-bola" que poderia ser melhor até para a economia alvinegra ceder ingressos à torcida vascaína, outro excelentíssimo profissional que também pecou ao exagerar muito nos argumentos.

 O período de vendas de ingressos para a final do estadual iniciava-se na manhã da quarta-feira e encerrará no dia da decisão. Já era de se esperar a torcida vascaína esgotando rapidamente seus ingressos, na expectativa de uma conquista que não vêm há mais de uma década, ao contrário do rival na finalíssima, que venceu o campeonato retrasado.

 "Se o tempo estimado de venda é de cinco dias e o clube conseguiu esgotar os ingressos antes do segundo, isso já é ótimo. Não havia a necessidade de tanta falação. Mauro Cezar, um excelente jornalista, foi infeliz ao desrespeitar a torcida do Botafogo. Acabou por ouvir o que não queria no Twitter." - Afirmou Vitor.

 Sabemos sim que a torcida do Botafogo é barulhenta, porém caseira. Muitos alvinegros preferem a comodidade do sofá que ir ao estádio apoiar, como faz a minoria, pertencente a torcidas como Loucos e Fúria Jovem. Mas nada obrigaria o torcedor alvinegro a esgotar ingressos em menos de um dia, como afirmaram os jornalistas citados acima.

 Portanto, podemos ver no que a incoerência pode resultar e no que boatos são capazes. O jornalismo e a mídia possuem um poder inimaginável, capaz de regular atitudes e incentivar nações, populações e grupos a tomarem diversas atitudes, seja qual for o assunto próprio. Não ser cauteloso e "julgar o livro pela capa" podem gerar sérias consequências.

 Vença que for. A festa há de ser linda, com batalha de mosaicos e de barulhentas e encantadoras torcidas. No maior templo da história do futebol, dentro da cidade do futebol, que celebra 450 anos de pura beleza e encanto, nada melhor que o clássico da paz, não havendo mal que a estrague. Viva o futebol carioca.


Daniel Braune

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Oito ou oitenta, do inferno ao céu - se está ruim, pode tornar-se bom. E vice-versa

 Após viver o ápice de uma das maiores crises econômicas e políticas da história do clube, regada de mistérios e turbulências, o Botafogo de Futebol e Regatas vive um momento de tentar reerguer-se de forma lenta, cautelosa e perigosa. Qualquer pisada em falso em meio a um campo ainda minado de dívidas e dúvidas pode significar um estrago ainda maior. O Botafogo e uma vítima de um forte terremoto longo e caótico que durou um ano. Quase morto, tenta hoje ao menos desdobrar-se em meio aos destroços e ficar de pé, mesmo que ferido, para que assim encontre uma saída do buraco que se encontra.

 Reduzindo salários, quitando dívidas, fazendo acordos financeiros e negociando cada vez menos despesas e mais lucros, mesmo que mínimos. Mas e como dizem: É juntando migalhas que se tem um monte. Bom exemplo é a torcida do Flamengo. Tão mísera, mas em grande quantidade, faz até um barulho.

De anúncios de smartphones a secadores de cabelo, negociações a cada jogo, cortes de gastos e o teto salarial mais baixo do desde o inicio do novo século, o Botafogo junta migalhas, como fazem os animais antes do inverno. Quando vem a estação em junho, entocam-se os bichos e apenas comem, nada de caça. Apenas juntando forças, para tempos depois, voltar apto e preparado ao que e o mundo la fora.
Em 2014, o ano que poderia ser o mais importante da história do clube com uma esperançosa conquista de Libertadores da América, tornou-se um caótico período de 12 meses que levou o clube à segunda divisão nacional em penúltimo lugar no campeonato Brasileiro. Quem sabe 2015, para um clube que necessita poupar até o jornal, não torne-se o início da maior arrancada de nossa história. O
Botafogo ama surpreende, seja negativa ou positivamente.
 A Guanabara já veio. A vaga na final também. O décimo segundo título carioca está mais próximo que nunca de uma equipe tão desacreditada, com jogadores tão desconhecidos e um clube que tenta superar a maior crise financeira de sua história.

Saímos dos destroços. Começamos a caminhar. Falta apenas encontrar a luz no fim do túnel, que possui endereço certo: Estrada dos louros. Placas de acesso? Deixe a estrela solitária conduzir-nos. Do céu ao inferno fomos em um ano. Quem sabe ao paraíso não retornamos novamente? E assim segue a vida de um botafoguense, tal como um elevador e um parque de diversões. Entre altos e baixos, infernais e paradisíacos momentos. Porém, nunca sem emoção.