sexta-feira, 1 de maio de 2015

Explicando a polêmica das arquibancadas na final do Cariocão - A imprensa precipitada

Durante toda a semana, nada tem sido mais comentado na imprensa  que a final do campeonato estadual no ano do aniversário de 450 anos da cidade maravilhosa, que talvez tenha sido, também, o mais polêmico dos últimos anos nos fatores exteriores às quatro linhas.

 Após diversas brigas, controvérsias e desavenças envolvendo FFERJ, Eurico Miranda e a dupla Fla-Flu, nada mais normal que finalizar o estadual com a palavra que define o cariocão 2015: Polêmica. Em itálico, para soar mais poético.

 Na espera de 12 anos desde a última conquista, o Vasco chega à final do estadual podendo empatar a partida para alcançar o título. Com isso, a torcida cruzmaltina esgotou os ingressos do setor sul (destinado somente a torcedores vascaínos) e comprou grande parte das cadeiras dos setores mistos (leste e oeste), ignorando sites travados e problemas nas vendas online, chegando a ocupar filas em pontos de venda já pela madrugada da quarta-feira. Enquanto isso, a torcida alvinegra, seguia ocupando as cadeiras do setor norte (destinado à torcida do clube da zona sul). Sem pressa, vagarosamente, sem a mesma euforia dos rivais, que estão dez anos a mais à espera do 24º caneco que os mesmos do 22°.

 A polêmica inicia-se quando surgem, por parte da imprensa irresponsável e louca por passar informações de qualquer maneira ao público em busca de visibilidade, boatos que podem causar sérios riscos e fins trágicos a um campeonato que já é polêmico por si só. Seguindo a famosa "lei do exagero" da imprensa, sites e jornalistas começaram a divulgar que a torcida do Vasco estaria comprando ingressos no setor norte, que é direcionado apenas aos torcedores botafoguenses, causando um grande furdunço nas redes sociais. E à medida em que o falatório aumenta, os boatos vêm atrás.

 Fazendo pesquisas e perguntando à pessoas ligadas ao clássico de domingo, é possível notar o enorme exagero que cerca toda essa história. Como em todos os clássicos brasileiros, com a desorganização e o famoso jeitinho brasileiro, torcedores buscam estratégias para pagar mais barato pelo ingresso. Alguns ingressos do já esgotado setor sul vascaíno são adquiridos por cambistas. Ainda na esperança de assistir a partida sem ter de pagar o preço alto das cadeiras do consórcio, alguns torcedores cruzmaltinos optaram por comprar ingressos do setor norte alvinegro e trocar com os cambistas, que possuem ingressos do setor vascaíno.

 "- Muitos torcedores do Vasco manifestaram-se abertamente nas redes sociais à respeito dessa troca, afirmando terem comprado ingressos do setor norte apenas para trocar com quem possuísse os do setor sul. Prática comum, principalmente em clássicos de muita grandeza como no futebol carioca" - afirma Vitor Correa, representante da Fúria Jovem e organizador do mosaico alvinegro na decisão.



 Além do mais, ao contrário do que vem publicando a imprensa, a supremacia vascaína não será assustadora da forma que vem sendo anunciada. O representante da FJB também explicou o fato.

 "- Pelo menos 21000 ingressos são nossos. Os vinte destinados ao nosso setor e 1 mil que foram identificados pela internet como de fato adquiridos por alvinegros. Fora os que não temos como apurar. A proporção é de que 65% do Maracanã seja tomado por Vascaínos. Em pesquisa feita pelo consórcio, a cada 10 ingressos vendidos nas filas, 6 ou 7 eram torcedores do Vasco." - Diz Vitor.

 Em algumas enquetes realizadas por matérias da imprensa carioca, os números de cruzmaltinos no Mário Filho passariam dos 85% da capacidade. O consórcio do Maracanã através do twitter @maracana também publicou uma nota, afirmando que não haverá risco de torcidas em setores diferentes aos previstos e que essa supremacia extrema vascaína é um exagero da mídia. Em seu twitter, o torcedor Vitor citou alguns trechos ditos pelo gerente do consórcio Maracanã a respeito das atitudes da mídia e dos rumores.

 

 O jornalista da ESPN Brasil Mauro Cezar, um dos influenciados e talvez mal informados por todo esse fuzuê, manifestou-se em sua conta do Twitter pedindo para que metade do setor alvinegro fosse cedido à torcida do Vasco da Gama caso o Botafogo não esgotasse seu ingressos até hoje, como se fosse algo simples, justo e seguro.



 Numa final estadual, os clubes, teoricamente, ambas as equipes devem possuir direitos e regalias iguais, para que mantenha-se a ordem do evento. Além de prejudicar boa parte de alvinegros que desejam apoiar seu clube no ano mais difícil de seus 111 anos de história futebolística, a segurança no famoso "clássico da paz" seria colocada em risco, podendo prejudicar a segurança dos que forem torcer. Graças a incentivos como estes, muitos vascaínos podem sentir-se mais à vontade a cometer esse ato de desrespeitoso e gerar uma confusão generalizada nas arquibancadas. Mauro Cezar, excelente jornalista que é, acabou sendo inconsequente pecou muito não só falar sem pensar, como desrespeitou a torcida alvinegra e pode ter causado uma rivalidade exagerada ao Maracanã no domingo, podendo terminar em violência. A polícia já pensa a respeito dos rumores.

 Pois bem. A torcida Vascaína esgotou os ingressos do setor sul na manhã da quarta-feira. Os alvinegros, esgotaram o setor norte à noite. Pequena diferença para que seja pedido por jornalistas metade dos ingressos direcionados à torcida adversária, não?
 Mas o radicalismo acabou por tomar conta da ESPN Brasil na tarde de ontem. Além das precipitadas twittadas de Mauro Cézar, Leonardo Bertozzi também chegou a comentar no programa "Bate-bola" que poderia ser melhor até para a economia alvinegra ceder ingressos à torcida vascaína, outro excelentíssimo profissional que também pecou ao exagerar muito nos argumentos.

 O período de vendas de ingressos para a final do estadual iniciava-se na manhã da quarta-feira e encerrará no dia da decisão. Já era de se esperar a torcida vascaína esgotando rapidamente seus ingressos, na expectativa de uma conquista que não vêm há mais de uma década, ao contrário do rival na finalíssima, que venceu o campeonato retrasado.

 "Se o tempo estimado de venda é de cinco dias e o clube conseguiu esgotar os ingressos antes do segundo, isso já é ótimo. Não havia a necessidade de tanta falação. Mauro Cezar, um excelente jornalista, foi infeliz ao desrespeitar a torcida do Botafogo. Acabou por ouvir o que não queria no Twitter." - Afirmou Vitor.

 Sabemos sim que a torcida do Botafogo é barulhenta, porém caseira. Muitos alvinegros preferem a comodidade do sofá que ir ao estádio apoiar, como faz a minoria, pertencente a torcidas como Loucos e Fúria Jovem. Mas nada obrigaria o torcedor alvinegro a esgotar ingressos em menos de um dia, como afirmaram os jornalistas citados acima.

 Portanto, podemos ver no que a incoerência pode resultar e no que boatos são capazes. O jornalismo e a mídia possuem um poder inimaginável, capaz de regular atitudes e incentivar nações, populações e grupos a tomarem diversas atitudes, seja qual for o assunto próprio. Não ser cauteloso e "julgar o livro pela capa" podem gerar sérias consequências.

 Vença que for. A festa há de ser linda, com batalha de mosaicos e de barulhentas e encantadoras torcidas. No maior templo da história do futebol, dentro da cidade do futebol, que celebra 450 anos de pura beleza e encanto, nada melhor que o clássico da paz, não havendo mal que a estrague. Viva o futebol carioca.


Daniel Braune

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